Guerras da República – Livro Segundo, 1893- 1894
Este é o segundo volume de uma trilogia sobre a Revolução Federalista. Ao mesmo tempo épico e intimista, o romance segue a vida de uma família no exílio, sua saga, amores e conflitos. Narra episódios da campanha do exército libertador envolvendo alguns de seus participantes: Ângelo Dourado, o médico que acompanhou os maragatos, os irmãos Saraiva e outros. Personagens históricos interagem com personagens fictícios. Seguindo os moldes do primeiro volume, este é pontuado por intertextos que dialogam com uma diversidade de autores. Alguns pontos são estabelecidos com circunstâncias internacionais da época, vinculando a narrativa regional a um plano mais amplo. Temas como justiça, liberdade, poder e obediência são evocados por situações vividas e uma dimensão mítica é trazida por alguns personagens, como o Padre Cunegundes e Gabriel.
Os eventos são situados no contexto de fatos relevantes da política nacional, delineando aspectos do nascimento da República brasileira.
Um affair de Antiquários
O Aleph de Jorge L. Borges é a inspiração para este conjunto de fragmentos de um conto, interceptado por poemas. Somente uma perspectiva muito específica pode revelar aspectos particulares dos fatos e acolher uma determinada visão de eventos passados. Enquanto o aleph borgiano revela lugares e geografias, os antiquários, de seu ponto único e privilegiado, observam eventos e temporalidades. É à descoberta de novos aspectos do passado que esses colecionadores de antiguidades se dedicam. Focados na vida de uma mulher, que viveu em Porto Alegre na transição do século 19 para o 20, o affair enquadra-se no contexto das guerras da República e suas consequências. Trata-se de um texto a chave que nem todos decifrarão. Independente da solução, o texto tece relações entre o passado riograndense regional e seus desenvolvimentos futuros.
Guerras da República – Livro Primeiro, 1889 -1893
Este é o primeiro livro de uma trilogia sobre as Guerras da República. Concentra-se na guerra civil iniciada no Rio Grande e que se espalhou por outros estados, como Santa Catarina e Paraná. O conflito ficou conhecido como Revolução Federalista e os grupos opositores como pica-paus, os governistas de lenço branco, e maragatos, os revoltosos de lenço vermelho.
É um romance histórico que inicia com uma visada geral dos eventos que levaram ao 15 de novembro no Rio de Janeiro. O foco é transposto para a nova situação política criada no Rio Grande do Sul com a tomada de poder por Júlio de Castilhos. Uma ditadura legal é instaurada no estado.
O romance narra a saga de uma família perseguida pelos governistas, a fuga para o Uruguai e o arregimentamento de tropas para combater o castilhismo. A atuação do gal. Joca Tavares, de Gumercindo Saraiva e aliados, é acompanhada a partir do exame de diários de campanha. Grande parte dos episódios foram extraídos, quase que exatamente, dos relatos do dr. Ângelo Dourado, médico baiano que acompanhou as forças de Gumercindo Saraiva. Livros, cartas, documentos, diários, biografias, jornais da época e telegramas foram consultados.
Personagens históricos interagem com personagens de ficção, seus amores e fantasias são descritos. Batalhas e fatos históricos são examinados a partir de documentos existentes, recolhendo-se também elementos da tradição oral relativa ao conflito, oficialmente iniciado em 1893. Alguns de seus pródromos são revisitados. É a primeira ficção histórica a examinar extensa e detalhadamente eventos cruciais da Revolução Federalista.
Noventa e três & Walter Benjamin
Este livro é uma aplicação da teoria benjaminiana à leitura de fatos históricos relativos aos primeiros anos da República brasileira. Noventa e três é uma alusão tanto ao início oficial da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, quanto ao título da obra de Victor Hugo, “Noventa e Três”, sobre a revolta da Vendeia em 1793. Inicia com uma releitura da teoria do conhecimento e da história de Walter Benjamin. Ideologia e poder são examinados no contexto da sua teoria das ideias e da história, revisitando autores como Descartes, Pascal, Goethe, Kant, Burke, Marx e outros. Episódios relatados em Guerras da República – Livro Primeiro e Segundo são focalizados sob a perspectiva das teses sobre o conceito de história de Walter Benjamin, alicerçadas no conceito benjaminiano de “origem”. Origem é um conceito dinâmico e complexo, que difere do conceito de “gênese”, adaptado a sistemas complexos como eventos históricos.
Realiza-se uma aproximação entre Walter Benjamin e Euclides da Cunha. O denso trânsito no ideário nacional entre 1789-1889 é sobejamente conhecido. Canudos é examinado no contexto das guerras da República, onde a imagem da Vendeia leva o autor dos Sertões a um exame benjaminiano de 1789, como imagem do passado que só se deixa fixar quando relampeja no momento em que é reconhecida. Este momento é o da instauração da República brasileira. Canudos ilumina a sétima tese benjaminiana indicando que nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. Uma constelação coerente é construída entre as obras de Benjamin e de Euclides da Cunha.
Bio
Miriam GD Freitas nasceu em Porto Alegre em 1948, é médica formada pela UFRGS em 1973. Estudou Neurologia em Paris na Salpetrière e fez a formação analítica no instituto C.G. Jung em Zürich. Apresentou trabalhos em S. Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Cambridge (UK), Berkeley, Yale, Wroclav, Kioto e ministrou vários cursos em Zurich. Expôs pinturas em Porto Alegre na Galeria Tina Zappoli, Via Lívia, no teatro S. Pedro, em Paris na Gallerie Dumas, rue des Rosiers, e em Marseille.